Mário Pena é velejador desde os seus 11 anos. Ainda hoje não sabe explicar de onde surgiu o fascínio pelo mar. Ninguém na sua família navegava, à excepção de um tio que pertencera à Marinha de Guerra, primeiro, e depois à Mercante. Velejar começou por ser um ato de rebeldia. Fazia-o à revelia do pai, que o proibia. Fugia de casa, em Lisboa, calculando as horas para não ser apanhado, e aprendia ventos e marés no Cais do Sodré. O amor pela vela cresceu consigo. Mais velho, deixou de precisar de desculpas ou de se esgueirar: era uma paixão assumida.

O mar seguiu presente na sua vida. Já adulto, onde quer que o trabalho o levasse, arranjava forma de pertencer aos clubes náuticos mais próximos. O Funchal apaixonou-o, fala com amor das pessoas de lá: “São navegadores, são gente do mar”. Participou em várias regatas e travessias a partir da Madeira. Regatas essas que mais tarde se transformaram em longas viagens, como a regata Expo98 ou a Brasil 500, nas comemorações dos 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil.

Dos muitos sonhos, o único que ficou por cumprir foi uma volta ao mundo, a velejar. Diz que se amanhã lhe ligarem com um convite, parte no dia seguinte sem arrependimentos. Fala do mar com devoção, tem-lhe respeito, não medo e assume que, se um dia o levar, está tudo bem, foi ele que escolheu esse elemento.

Humilde e com olhos fundos, de ver ao longe, foi assim que nos recebeu e encantou com histórias de lobo do mar.

Esta entrevista foi recolhida no âmbito do projeto “Cara à Vela”, uma iniciativa de Rui Coelho e Luísa Coelho (projeto vencedor “Jovens com Talento”, Viana do Castelo 2024).