Rosa da Agonia da Costa Lima nasceu a 1 de setembro de 1915 no lugar de Devesa, Lanheses, Viana do Castelo. O seus pais – José Estevão da Costa e Maria das Dores de Barros Lima – eram igualmente de Lanheses, tal como os seus avós, pelo que podemos considerá-la uma filha da terra. Fazia parte de uma prole de dez irmãos – seis rapazes e quatro raparigas.
Em 1959 saiu de casa dos pais, aquando do casamento, e foi morar para Meixedo com o seu marido onde juntos geriram um negócio – uma mercearia, um moinho de moer farinha para fora e uma taberna. Trabalhou como comerciante até 1983, única profissão que teve, e confessa que gostava muito do que fazia.
“Eu gostava muito do que fazia porque podia ver e falar com muita gente […], pude ajudar alguns vizinhos mais pobres a matar a fome aos filhos. Ajudei a criar muita gente porque lhes fiava a mercearia, lhes dava do pão que cozia. […] Emprestámos dinheiro a muitos rapazes para irem para a França a salto e a alguns chefes de família para sustentar a casa.
Na taberna algumas pessoas falavam às escondidas de política no tempo do Salazar. O meu marido era vigiado pela PIDE porque desconfiavam que ele era anti-regime e isso fazia com que eu estivesse sempre preocupada quando via aproximar-se da porta alguém desconhecido.
Era também na taberna que havia o jornal que nós comprávamos e que vinha todos os dias na camioneta do Cura e que era lançado pela janela pelo cobrador . Quem queria vinha lê-lo.
No tempo da guerra havia muita falta de alimentos e havia umas senhas de racionamento que eram atribuídas às pessoas. As pessoas inscreviam-se na mercearia e conforme o tamanho da família tinham direito a comprar uma certa quantidade de coisas . Nessa altura havia muita dificuldade de arranjar milho para cozer o pão e muitas vezes ia-se buscar escondido de noite às Argas ( freguesias que ficam no interior da serra de Arga).
No tempo da extração de minério (estanho e volfrâmio) em Meixedo, a mercearia era também o local onde algumas pessoas procuravam vender o minério tirado clandestinamente para fazer algum dinheiro. Na taberna e na mercearia ouvia-se os desabafos das pessoas. ”
É uma história deliciosa, cheia de memorias, de uma mulher que não pára.
“Não gosto de estar muito tempo parada porque senão fico ‘engameada’ ( deixar de andar).”
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Meixedo
Catarina Castro
Biblioteca Escolar do Agrupamento de Escolas de Arga e Lima
Entrevista
Pessoas e Histórias de Vida
Biblioteca Escolar do Agrupamento de Escolas de Arga e Lima
2006
Português
41.736497, -8.677395