O Monumento Natural Local das Relíquias do Rheic das Pedras Ruivas corresponde a uma área aproximada de 58 ha, delimitada entre o setor costeiro proximal a norte do Forte de Rego de Fontes e o extremo sul da Praia Norte, com extensão aproximada de 1500 metros, ao longo da linha de costa [1]. Esta é uma área chave que preserva elementos essenciais à interpretação da hidrodinâmica do Rheic, nomeadamente os processos sedimentares operados no seu fundo areno-lodoso (marcas de ondulação e laminações fossilizadas) e da paleodiversidade instalada (icnofósseis de arenícolas – Scolithus sp. e de trilobites – Cruziana sp.) [2].
Da forma como evoluiu o fecho do Rheic estão conservados registos importantes que marcam os vários episódios da tectónica Varísca, em especial as fases de deformação D1 e D3. Estes eventos foram os principais responsáveis pelas estruturas de deformadas por cisalhamento sinistrogiro que se observam, nomeadamente a estrutura em dominó e sigmoidal, as dobras isoclinais da Formação de Sta. Justa e as dobras em kink da Formação de Valongo na 1ª fase de deformação. Os corpos filonianos surgem devido à distenção resultante do cisalhamento dextrógiro que ocorreu na 3ª fase de deformação [2 e 3].
À semelhança do Monumento Natural Local do Alcantilado de Montedor, são visíveis as plataformas costeiras do eemiano (125 mil anos) com alvéolos de P. lividus na Formação de Valongo, a cotas coincidentes com o topo do relevo da Formação de Sta. Justa. Os Siltes da Cambôa do Marinheiro (11 a 18 mil anos) visíveis no setor norte, conferem ao monumento valor periglaciário, paleontológico e ecológico. Correspondem aos sedimentos de uma antiga lagoa que teria sido alimentada pela fusão primaveril das neves das encostas locais. Estes sedimentos cobrem e ocultam as plataformas costeiras e rochedos sob a plataforma litoral, formando as veigas cuja origem se deve à impermeabilização, humidade e nutrientes proporcionados. Os Siltes da Cambôa do Marinheiro possuem um património microscópico constituído por pólenes e esporos de algas de água doce, que prova a existência de um meio confinado afastado da influência marinha direta, permitindo reconstruir a vegetação da altura, essencialmente pinhal e vegetação do estrato herbáceo [2 e 4].
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Geoparque Litoral de Viana do Castelo
Portugal
02/2019
41.693473, -8.850575